Entrevista
O surf como lição de vida
Ei, você aí! A vida ta ruim, né? Teu time perdeu de novo, a tua namorada te deu o fora e hoje de manhã apareceu um risquinho na lataria da caranga. Pois é irmão, a vida é dura. Está tudo dando errado e frases impublicáveis saem da sua boca como água em mangueira de bombeiro.
Pois saiba, caro leitor, que a felicidade é um estado relativo. Uns podem rir da vida e sentir imensa alegria com tudo isso que você julga ser uma praga.
Ter tudo e sentir-se vazio pode ser o pior dos destinos, mas ser feliz com o que se tem e o que se é, é uma dádiva.
É isso que poderá ser visto no próximo final de semana, dias 7 e 8 de março, quando um grupo de surfistas muito especiais dividirá as atenções com os melhores atletas amadores do Rio Grande do Sul na primeira etapa do Circuito Feelgood/Clube Surf AST 2009, que será realizado nas ondas da Praia dos Molhes, em Torres.
A Categoria para Surdos será uma das doze que estarão em disputa no evento, uma novidade em etapas válidas pelo Circuito Gaúcho Amador, mesmo que não conte pontos para o ranking.
Um destes surfistas chama-se Ramarone Fernandes Vieira, o ‘Rama’, que aos 25 anos não escuta absolutamente nada, mas que faz do surf um dos grandes motivos para ser feliz.
O Clube Surf fez questão de entrevistá-lo para que você, tão sofrido leitor, veja que a derrota do seu time, a namorada perdida ou aquele arranhão no carro são nada perante a vontade de viver. Tôma!!
Com quantos anos você começou a surfar?
Ramarone Vieira - Ganhei a primeira prancha da minha tia, que chamo de mãe, a Roberta Perraro Vieira, pois ela foi minha grande incentivadora. Era uma 6’2” novinha, linda, com bordas azuis (blue hawaii surf). Era natal de 1995 e eu tinha 11 anos. Ainda lembro, naquele tempo morávamos em Porto Alegre, pois eu estudava no Concórdia- Escola para Surdos.
Por ser surdo, existe alguma dificuldade para praticar surf?
Não tenho dificuldade por ser surdo, só preciso ter atenção. Minha "mãe" (tia Roberta) me colocou na escola de natação no Clube Teresópolis, em Porto Alegre e depois aprendi sozinho, olhando, tentando. No campeonato preciso que me ajudem um pouco só facilitando a comunicação, se não sabem libras (língua de sinais brasileira), basta fazer mímica e mover os lábios devagar, falando palavras básicas e simples que eu faço a leitura labial. Como eu não sabia das regras do campeonato de surf, dos tempos e da ansiedade natural, meu amigo Bira Raupp me ajudou dizendo os tempos e fazendo sinais para eu saber para que direção ir no mar para pegar as ondas melhores sem perder muito tempo. O Bira ficava na areia fazendo mímica, incentivando e me ajudou muito, pois eu estava tão ansioso que até sentia enjoo. Não há dificuldade, é só diversão, saúde, ajuda na integração e a fazer amigos.
Existe alguma associação de surf específica para surdos?
Nos Estados Unidos tem. No Brasil não encontrei. Tem muito surdo que surfa. Temos associações de surdos, mas não de surdos surfistas. Não existe aqui associação de surf específica para surdos. Em novembro eu fui para o Rio de Janeiro, lá têm muitos surdos que surfam, que tentam como eu participar de campeonatos, porém não há associação dos surdos, mas lá no campeonato, que foi realizado em Saquarema, tinha a categoria de surdos e eu participei com os demais. Foi bem melhor, pois o incentivo é diferente. Lá eu era mais um participante concorrente, com vantagens e desvantagens iguais aos outros da minha categoria. Aqui em torres falta isto, o incentivo para que os surdos pratiquem surfe, que é esporte bom para saúde. Acho que agora, juntos, podemos começar isto. Vai ser legal, mas precisamos, nós surdos, de apoio como este que a AST está dando no Feelgood/Clube Surf.
Tu tens idéia do número de surdos que praticam o surf aqui no Rio Grande do Sul? E no Brasil?
Muitos! Não sei precisar, mas posso ver. Só aqui em torres sei de mim e de outros tantos. Depois, têm muitos surdos aqui na região que talvez surfem, mas não sei porque, antes deste campeonato, não tínhamos um motivo e por isso não nos encontrávamos com este fim. Muitas vezes você conhece a pessoa e não sabe o que ela faz. Tenho amigos como o Emerson e o André que são de outras cidades, são surdos e surfam. Temos uma turma grande de amigos surdos, quase todos adoram o surfe, falta só incentivo mesmo. Muitos têm receio de competir com ouvintes, outros têm receio de iniciar a prática justamente porque não encontram motivação para fazer isso.
Qual a tua expectativa para a realização desta categoria especial no Feelgood/Clube Surf AST 2009?
Muito grande. Eu adoro surf e nossa categoria será mais um lugar a ser ocupado na premiação. Isto incentiva, é muito bom. Minha expectativa é que, com a realização desta categoria especial para surdos, o grupo aumente e venha participar de um modo ou outro dos campeonatos de surf. Acho que isto pode ser muito bom tanto para surdos como para ouvintes, que começarão a se interessar mais e ver que não é difícil se comunicar quando se está disposto, mesmo que não se tenha feito cursos. É bom até para a cidade, bem como para a Associação dos Surfistas de Torres, que podem ganhar mais evidencia com a iniciativa. Com certeza haverá reconhecimento de todos, especialmente do Cara lá de cima. Outro aspecto é a questão de patrocínio, que podemos conquistar mais para frente. Aliás, eu agradeço muito o Ênio Freitas, que é meu patrocinador. Ele está preparando uma prancha para mim, que só estará pronta uns dias antes do campeonato. Temos que valorizar as pessoas que patrocinam o esporte.
Você tem idéia de quantos atletas participarão da categoria?
Já avisei muitos interessados. Até o momento (27/02, dia desta entrevista) cinco já haviam confirmado presença. A maioria ainda não acredita que realmente Torres vai realizar algo assim, que vai ter alguém na beira da praia nos orientando, como naquela vez o Bira Raupp fazendo sinal para avisar o que geralmente avisam na locução.
Qual a mensagem que você passaria para aquelas pessoas que, por serem portadores de alguma limitação física, acham que não podem praticar esporte?
Tentar, acreditar e confiar. Com limitação ou sem limitação as pessoas precisam tentar, acreditar e confiar que podem. Mas, para quem tem alguma limitação, de um modo ou de outro é preciso coragem, mesmo que dê medo no início, ou vergonha, tudo bem, levemos como brincadeira, tentar pode, sempre pôde, faz bem. O que importa é ser feliz. As pessoas são felizes quando fazem algo diferente, quando tentam algo. É confiar mais na vida! Se serve como incentivo, há cegos que surfam. Existe um cara chamado "Pirata" que perdeu uma das pernas que surfa. Tem a Bethany Hamilton, que perdeu o braço e participa do circuito mundial. Existem idosos que pegam onda. Eles são conhecidos porque conseguiram, mas até eles passaram trabalho, sentiram medo, insegurança. Até críticas, talvez. Com certeza, hoje são mais felizes por terem conseguido o que queriam: praticar o esporte que escolheram e aprenderam a praticar do seu modo.
Antes de encerrar, gostaria de evidenciar a importância dos patrocínios. Talvez algumas empresas se interessem em nos patrocinar. Por enquanto, quero agradecer o Ênio Freitas, que me deu um descontão na fabricação de uma prancha, e também aqueles que tiveram a iniciativa de incluir a categoria especial para surdos no Feelgood/Clube Surf AST 2009.
A Especial para Surfistas Surdos mostrou que o esporte é uma poderosa ferramenta de integração e provou que certas diferenças não fazem a mínima influência quando se tem determinação e vontade de viver.
Em uma bateria onde todos já eram vitoriosos antes mesmo de caírem na água, o campeão foi Gustavo , que fez a melhor pontuação. Atrás dele vieram na sequência: Andre Menezes, Ramarone Vieira, Emerson Monteiro e Kaue Raupp.
Especial Surfistas Surdos
1 - Gustavo Silveira 8.55 - Torres/RS
2 - Andre Menezes 5.50 - Rio de Janeiro/RJ
3 - Ramarone Vieira 3.00 - Torres/RS
4 - Emerson Monteiro 2.55 - Florianopolis/SC
5 - Kaue Raupp 1.90 - Torres/RS
Pois saiba, caro leitor, que a felicidade é um estado relativo. Uns podem rir da vida e sentir imensa alegria com tudo isso que você julga ser uma praga.
Ter tudo e sentir-se vazio pode ser o pior dos destinos, mas ser feliz com o que se tem e o que se é, é uma dádiva.
É isso que poderá ser visto no próximo final de semana, dias 7 e 8 de março, quando um grupo de surfistas muito especiais dividirá as atenções com os melhores atletas amadores do Rio Grande do Sul na primeira etapa do Circuito Feelgood/Clube Surf AST 2009, que será realizado nas ondas da Praia dos Molhes, em Torres.
A Categoria para Surdos será uma das doze que estarão em disputa no evento, uma novidade em etapas válidas pelo Circuito Gaúcho Amador, mesmo que não conte pontos para o ranking.
Um destes surfistas chama-se Ramarone Fernandes Vieira, o ‘Rama’, que aos 25 anos não escuta absolutamente nada, mas que faz do surf um dos grandes motivos para ser feliz.
O Clube Surf fez questão de entrevistá-lo para que você, tão sofrido leitor, veja que a derrota do seu time, a namorada perdida ou aquele arranhão no carro são nada perante a vontade de viver. Tôma!!
Com quantos anos você começou a surfar?
Ramarone Vieira - Ganhei a primeira prancha da minha tia, que chamo de mãe, a Roberta Perraro Vieira, pois ela foi minha grande incentivadora. Era uma 6’2” novinha, linda, com bordas azuis (blue hawaii surf). Era natal de 1995 e eu tinha 11 anos. Ainda lembro, naquele tempo morávamos em Porto Alegre, pois eu estudava no Concórdia- Escola para Surdos.
Por ser surdo, existe alguma dificuldade para praticar surf?
Não tenho dificuldade por ser surdo, só preciso ter atenção. Minha "mãe" (tia Roberta) me colocou na escola de natação no Clube Teresópolis, em Porto Alegre e depois aprendi sozinho, olhando, tentando. No campeonato preciso que me ajudem um pouco só facilitando a comunicação, se não sabem libras (língua de sinais brasileira), basta fazer mímica e mover os lábios devagar, falando palavras básicas e simples que eu faço a leitura labial. Como eu não sabia das regras do campeonato de surf, dos tempos e da ansiedade natural, meu amigo Bira Raupp me ajudou dizendo os tempos e fazendo sinais para eu saber para que direção ir no mar para pegar as ondas melhores sem perder muito tempo. O Bira ficava na areia fazendo mímica, incentivando e me ajudou muito, pois eu estava tão ansioso que até sentia enjoo. Não há dificuldade, é só diversão, saúde, ajuda na integração e a fazer amigos.
Existe alguma associação de surf específica para surdos?
Nos Estados Unidos tem. No Brasil não encontrei. Tem muito surdo que surfa. Temos associações de surdos, mas não de surdos surfistas. Não existe aqui associação de surf específica para surdos. Em novembro eu fui para o Rio de Janeiro, lá têm muitos surdos que surfam, que tentam como eu participar de campeonatos, porém não há associação dos surdos, mas lá no campeonato, que foi realizado em Saquarema, tinha a categoria de surdos e eu participei com os demais. Foi bem melhor, pois o incentivo é diferente. Lá eu era mais um participante concorrente, com vantagens e desvantagens iguais aos outros da minha categoria. Aqui em torres falta isto, o incentivo para que os surdos pratiquem surfe, que é esporte bom para saúde. Acho que agora, juntos, podemos começar isto. Vai ser legal, mas precisamos, nós surdos, de apoio como este que a AST está dando no Feelgood/Clube Surf.
Tu tens idéia do número de surdos que praticam o surf aqui no Rio Grande do Sul? E no Brasil?
Muitos! Não sei precisar, mas posso ver. Só aqui em torres sei de mim e de outros tantos. Depois, têm muitos surdos aqui na região que talvez surfem, mas não sei porque, antes deste campeonato, não tínhamos um motivo e por isso não nos encontrávamos com este fim. Muitas vezes você conhece a pessoa e não sabe o que ela faz. Tenho amigos como o Emerson e o André que são de outras cidades, são surdos e surfam. Temos uma turma grande de amigos surdos, quase todos adoram o surfe, falta só incentivo mesmo. Muitos têm receio de competir com ouvintes, outros têm receio de iniciar a prática justamente porque não encontram motivação para fazer isso.
Qual a tua expectativa para a realização desta categoria especial no Feelgood/Clube Surf AST 2009?
Muito grande. Eu adoro surf e nossa categoria será mais um lugar a ser ocupado na premiação. Isto incentiva, é muito bom. Minha expectativa é que, com a realização desta categoria especial para surdos, o grupo aumente e venha participar de um modo ou outro dos campeonatos de surf. Acho que isto pode ser muito bom tanto para surdos como para ouvintes, que começarão a se interessar mais e ver que não é difícil se comunicar quando se está disposto, mesmo que não se tenha feito cursos. É bom até para a cidade, bem como para a Associação dos Surfistas de Torres, que podem ganhar mais evidencia com a iniciativa. Com certeza haverá reconhecimento de todos, especialmente do Cara lá de cima. Outro aspecto é a questão de patrocínio, que podemos conquistar mais para frente. Aliás, eu agradeço muito o Ênio Freitas, que é meu patrocinador. Ele está preparando uma prancha para mim, que só estará pronta uns dias antes do campeonato. Temos que valorizar as pessoas que patrocinam o esporte.
Você tem idéia de quantos atletas participarão da categoria?
Já avisei muitos interessados. Até o momento (27/02, dia desta entrevista) cinco já haviam confirmado presença. A maioria ainda não acredita que realmente Torres vai realizar algo assim, que vai ter alguém na beira da praia nos orientando, como naquela vez o Bira Raupp fazendo sinal para avisar o que geralmente avisam na locução.
Qual a mensagem que você passaria para aquelas pessoas que, por serem portadores de alguma limitação física, acham que não podem praticar esporte?
Tentar, acreditar e confiar. Com limitação ou sem limitação as pessoas precisam tentar, acreditar e confiar que podem. Mas, para quem tem alguma limitação, de um modo ou de outro é preciso coragem, mesmo que dê medo no início, ou vergonha, tudo bem, levemos como brincadeira, tentar pode, sempre pôde, faz bem. O que importa é ser feliz. As pessoas são felizes quando fazem algo diferente, quando tentam algo. É confiar mais na vida! Se serve como incentivo, há cegos que surfam. Existe um cara chamado "Pirata" que perdeu uma das pernas que surfa. Tem a Bethany Hamilton, que perdeu o braço e participa do circuito mundial. Existem idosos que pegam onda. Eles são conhecidos porque conseguiram, mas até eles passaram trabalho, sentiram medo, insegurança. Até críticas, talvez. Com certeza, hoje são mais felizes por terem conseguido o que queriam: praticar o esporte que escolheram e aprenderam a praticar do seu modo.
Antes de encerrar, gostaria de evidenciar a importância dos patrocínios. Talvez algumas empresas se interessem em nos patrocinar. Por enquanto, quero agradecer o Ênio Freitas, que me deu um descontão na fabricação de uma prancha, e também aqueles que tiveram a iniciativa de incluir a categoria especial para surdos no Feelgood/Clube Surf AST 2009.
A Especial para Surfistas Surdos mostrou que o esporte é uma poderosa ferramenta de integração e provou que certas diferenças não fazem a mínima influência quando se tem determinação e vontade de viver.
Em uma bateria onde todos já eram vitoriosos antes mesmo de caírem na água, o campeão foi Gustavo , que fez a melhor pontuação. Atrás dele vieram na sequência: Andre Menezes, Ramarone Vieira, Emerson Monteiro e Kaue Raupp.
Especial Surfistas Surdos
1 - Gustavo Silveira 8.55 - Torres/RS
2 - Andre Menezes 5.50 - Rio de Janeiro/RJ
3 - Ramarone Vieira 3.00 - Torres/RS
4 - Emerson Monteiro 2.55 - Florianopolis/SC
5 - Kaue Raupp 1.90 - Torres/RS
Fontes:
Clube Surf - minha entrevista
http://clubesurf.com.br/02/vr3/entrevistas.php
Clube Surf
http://clubesurf.com.br/02/vr3/headline.php?n_id=13821
Nas ondas com banana
http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=2&local=18&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=195724&blog=539&coldir=1&topo=4198.dwt
All'brother's informação radical
http://allbrothersinformacaoradical.blogspot.com/2009/06/surfistas-surdos-em-competica
Camera Surf
http://camerasurf.uol.com.br/index.php?secao=7¬icia=9875
Wooho
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